Chang sempre alegou que Filipe Nyusi, havia autorizado os empréstimos
No dia 22 de março de 2011, o jornal PÚBLICO publicou uma análise de António Rodrigues sobre a estratégia de Filipe Nyusi, presidente de Moçambique, para manter sua influência após o término de seu segundo mandato presidencial. A reportagem detalha como Nyusi busca permanecer no comando do partido Frelimo, mesmo fora da presidência, através de acordos extrajudiciais e manobras políticas, em um cenário que vem sendo chamado por alguns de "Operação salve o rei".
Um grupo de 14 cidadãos moçambicanos, sem filiação partidária, apresentou uma petição ao Conselho Constitucional, solicitando que se impeça ex-presidentes de exercerem funções privadas, como a liderança de partidos políticos, após deixarem o cargo. Esta iniciativa é vista como uma resposta à expectativa de que Nyusi, mesmo ao fim de seu mandato, continue à frente da Frelimo se o próximo presidente for eleito dentro do partido.
O semanário Ponto por Ponto mencionou que Nyusi está implementando um plano para garantir sua permanência no controle da Frelimo até 2026, influenciando seu sucessor na Presidência, Daniel Chapo. A Frelimo, no poder desde a independência de Moçambique, já considera certa a eleição de Chapo para chefe de Estado, e Nyusi estaria se preparando para evitar problemas judiciais, especialmente no que se refere ao escândalo das "dívidas ocultas".
O Centro para a Democracia e Direitos Humanos (CDD), uma organização da sociedade civil em Moçambique, criticou Nyusi por buscar meios de se manter no poder através do partido, mesmo após o fim de seu mandato presidencial. No contexto do escândalo das "dívidas ocultas", o ex-ministro das Finanças, Manuel Chang, está sendo julgado nos Estados Unidos, acusado de ter aprovado secretamente empréstimos garantidos pelo Estado para empresas públicas moçambicanas, empréstimos que não foram utilizados conforme o planejado e não foram pagos.
Chang foi preso na África do Sul em 2018 sob um mandado de captura internacional emitido pelos EUA, e o governo moçambicano travou uma longa batalha legal para evitar sua extradição. Chang sempre alegou que Filipe Nyusi, à época ministro da Defesa, havia autorizado os empréstimos, e o ex-presidente Armando Guebuza também tinha conhecimento das operações.
O CDD destacou que, em julgamentos ocorridos em três países, incluindo Moçambique, Inglaterra e os Estados Unidos, Filipe Nyusi foi consistentemente apontado como uma figura central no escândalo, especialmente durante seu período como ministro da Defesa. No julgamento em Maputo, a defesa de aliados de Guebuza tentou chamar Nyusi como testemunha, mas a tentativa foi bloqueada pelo juiz e pela representante do Ministério Público.
O escândalo das dívidas ocultas, considerado um projeto de corrupção que envolveu altos dirigentes do Estado, interrompeu o crescimento acelerado de Moçambique, que era uma das economias mais promissoras da África subsaariana. Nyusi, que ainda possui imunidade até o final de seu mandato, está tomando precauções para evitar complicações legais após deixar o cargo, em uma estratégia que inclui garantir a eleição de Daniel Chapo como seu sucessor.
A reportagem também menciona que, durante o mandato de Nyusi, as empresas de sua família dobraram em número, e seu filho, Jacinto Ferrão Nyusi, adquiriu uma casa de luxo na Cidade do Cabo, supostamente com dinheiro proveniente do esquema de corrupção. Em 2021, o Estado moçambicano rejeitava a ideia de acordos extrajudiciais com os credores das dívidas ocultas, mas, recentemente, dois desses acordos foram firmados, reduzindo significativamente as dívidas do país.
O ministro da Economia e Finanças, Max Tonela, declarou que os acordos visam mitigar os riscos financeiros e restaurar a credibilidade de Moçambique no cenário internacional. Contudo, o CDD criticou a mudança de estratégia do governo, considerando-a uma tentativa de proteger interesses que não são os do Estado. O julgamento em Londres, que envolveu Moçambique, Credit Suisse, e a empresa Privinvest, terminou em julho de 2024, após quase quatro anos de disputa legal.
O artigo conclui que esses acordos extrajudiciais e a estratégia de Nyusi representam uma tentativa de garantir sua segurança política e legal após deixar a presidência, um esforço descrito como "milimetricamente orquestrado" para assegurar seu futuro no cenário político moçambicano.
Fonte: Jornal Público