Jornalista moçambicana, Cidália Nardela, condenada por difamação e calúnia, declara que não será amedrontada. "Isso me dá mais energia para continuar lutando pela liberdade de imprensa e de expressão", destaca.
Em Moçambique, a jornalista e apresentadora Cidália Nardela foi sentenciada nesta quinta-feira (01.08) a um ano de prisão, convertido em multa diária de 500 meticais (aproximadamente sete euros). Além disso, deve pagar uma indenização de dois milhões de meticais à queixosa (cerca de 28.600 euros).
A condenação de Nardela refere-se a difamação e calúnia em relação a um comentário feito sobre uma denúncia contra a procuradoria de Monapo. A procuradora Carla Andrasse, na época dos acontecimentos, apresentou queixa contra a profissional da TV Muniga, de Nampula, após a notícia da suposta libertação ilegal de um agressor de menores.
Em entrevista à DW, Nardela assegura que seguiu os princípios jornalísticos e que não será intimidade por ações como essa.
DW África: Pretende apelar da decisão?
Cidália Nardela (CN): Sim, vamos recorrer da sentença. Se tudo correr bem, será ainda amanhã, pois temos que incluir as associações envolvidas e que estão nos apoiando.
DW África: Recebe apoio de organizações locais?
CN: Conto com o apoio de mais de 100 organizações do país que estão apoiando esta causa em prol da justiça e da liberdade de imprensa.
DW África: Qual é sua opinião sobre a atuação da justiça em seu caso?
CN: Ainda estou processando, pois acabei de sair da leitura da sentença há cerca de 30 minutos. Creio que a justiça será feita. Mesmo que demore, a justiça não falha. Fui acusada de crimes que não cometi, pois a reportagem em si comprova que não fiz declarações difamatórias, injuriosas ou caluniosas à queixosa. Vamos deixar que os advogados concluam.
DW África: Como comunicadora, você se sente ameaçada no exercício da sua profissão após o ocorrido?
CN: Sim, é uma preocupação para todos os comunicadores em todo o mundo, mas especialmente aqui no nosso país. É assustador ver a repetição desses casos e a perseguição enfrentada pelos jornalistas devido à falta de liberdade de imprensa. No entanto, isso não me fará parar de trabalhar ou de exercer minha função, pois conheço meus direitos. Sinto sim uma ameaça, mas isso me motiva ainda mais a lutar pela liberdade de imprensa e expressão.
DW África: Ao final do dia, quando vai dormir, você se sente em paz em relação aos critérios jornalísticos? Acha que respeitou esses critérios ao abordar o assunto em questão?
CN: Sim, respeitei. Foi uma chamada inesperada, uma denúncia. Não foi algo preparado previamente. Não poderia interromper o telespectador, já que era ao vivo. A denúncia também serviu como um apoio para que a Justiça pudesse considerá-la como uma contribuição do programa de TV e não apenas do cidadão que buscava ajudar a Justiça. Mantenho uma posição firme em relação ao programa, à denúncia, e ao meu papel como jornalista e apresentadora.
DW África: Então, você acha que fez um comentário ou uma pergunta com base em suspeitas?
CN: Exatamente, foi um comentário de surpresa. Eu disse: "Desculpa, sou mãe e esse tipo de situação não é aceitável". Isso chocou os magistrados, porque destaquei como a Justiça do nosso país estava lidando com essa situação.
DW África: Daqui para frente, você pretende ser mais cautelosa ao comentar suspeitas levantadas por terceiros?
CN: Agir com cautela é uma forma de silenciar. E ninguém pode silenciar a verdade. Se eu tiver que me calar, quando tenho liberdade de expressão e imprensa, estarei anulando esse direito. Por que eu deveria me calar? Se estivesse violando alguma lei ou desrespeitando direitos...
Espero que a reformulação atenda às suas expectativas! Se precisar de mais alguma ajuda, estou à disposição. Ler mais...
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Fonte: Stop