Na quinta-feira, 7 de novembro, o candidato presidencial Venâncio Mondlane decidiu cancelar sua volta a Maputo, onde havia prometido liderar protestos em três avenidas da capital, focados em pressionar os principais poderes para a restauração da verdade eleitoral.
As avenidas escolhidas levantaram especulações sobre uma possível tentativa de alterar a ordem constitucional, com alguns sugerindo até a possibilidade de um golpe de Estado.
Em seu comunicado virtual, Mondlane explicou sua ausência, afirmando que as manifestações haviam se transformado em episódios de violência, saques e até mortes, incluindo de crianças. Tal cenário caótico levanta questionamentos sobre o controle da situação por parte do candidato ou até mesmo sobre suas intenções de incitar o terror.
Apesar de sua ausência já ser esperada, ela causou surpresa entre os manifestantes, que em alguns lugares abandonaram o espírito pacífico e desencadearam atos de vandalismo, como incêndios de veículos particulares, roubos e destruição de bens públicos, especialmente em Ressano Garcia, onde muitos policiais buscaram abrigo em Komati Port.
Mondlane havia informado previamente que chegaria a Maputo nas primeiras horas do dia 7, para organizar os manifestantes nas avenidas Eduardo Mondlane, Julius Nyerere e 24 de Julho, consideradas alvos das manifestações contra a alegada fraude eleitoral. No entanto, sua não comparecimento levou à sua explicação de que recebeu inúmeras solicitações para se manter em segurança, evitando assim ser exposto ao perigo.
Na terça-feira, o partido PODEMOS, que apoiou a candidatura de Venâncio Mondlane, anunciou que não endossaria a participação do candidato na grande marcha, alegando que sua presença poderia colocar sua vida em risco. “Neste momento, não é apropriado que o Engenheiro participe da manifestação de quinta-feira (07).
Precisamos de você vivo mais do que morto”, disseram. Contudo, Mondlane não comunicou sua ausência com antecedência, o que sugere que sua atitude poderia ser parte de uma estratégia para aumentar a pressão, mobilizando uma juventude que já não se sente conectada com a direção atual do país e que clama por mudanças que vão além das disputas partidárias.
As orientações para o dia 7 de novembro eram simples: os manifestantes deveriam se concentrar em massa nas três avenidas, sem qualquer explicação sobre a rota que deveriam seguir. Existia apenas uma informação não confirmada de que a marcha poderia se dirigir à Presidência da República, que estava cercada pela polícia, com agentes da Guarda Presidencial bloqueando a avenida Julius Nyerere, desde a Praça de Destacamento Feminino até o cruzamento com Mao Tse Tung.
Vale lembrar que, nas manifestações de segunda-feira, milhares de pessoas conseguiram romper as barreiras policiais na avenida Julius Nyerere e marcharam a menos de 10 quilômetros da Presidência. Essa tendência de direcionar as manifestações em direção à Presidência, num contexto em que se questiona a legitimidade dos poderes, juntamente com a reivindicação por reconhecimento da vitória, intensifica as suspeitas de um golpe contra o poder.
Na quinta-feira (07), os manifestantes tomaram as avenidas Vladimir Lenine, Joaquim Chissano, Julius Nyerere, Acordos de Lusaka e Moçambique, superando as barreiras criadas pelos militares, que mantiveram uma postura cordial. No entanto, ocorreram confrontos com civis, especialmente onde a Unidade de Intervenção Rápida atuou, utilizando gás lacrimogêneo e balas de borracha contra pequenos grupos. Além disso, houve relatos de utilização de munição real.
Os vídeos que documentam o que deveria ser o último dia da terceira fase das manifestações mostram como uma demonstração pacífica se transformou em um momento de violência, mesmo em situações onde a polícia não agiu de forma agressiva. No bairro de Malhangalene, nas proximidades de Maputo, a loja do grupo Shoprite foi alvo de vandalismo, com quase todos os produtos sendo saqueados.
Da mesma forma, na loja OK Mobílias, especializada na venda de móveis, os manifestantes levaram quase todos os itens disponíveis. Além disso, em várias áreas da Cidade e da Província de Maputo, há relatos de depredação em diversos estabelecimentos, especialmente armazéns de bebidas alcoólicas e outros produtos alimentares, que também foram saqueados.