O Aeroporto Internacional de Nacala, localizado na província de Nampula, sofreu uma reclassificação de nível 6 para nível 5 pelo Instituto de Aviação Civil de Moçambique (IACM). A decisão, confirmada pelo comandante João de Abreu, Presidente do Conselho de Administração do IACM, resultou de falhas técnicas e operacionais que não foram corrigidas dentro do prazo estabelecido. Dentre as deficiências apontadas, destacam-se problemas na iluminação da pista, nas ajudas de rádio de aproximação e na qualidade dos serviços auxiliares, todos vitais para garantir a segurança e o bom funcionamento do aeroporto.
Inaugurado em dezembro de 2014, o aeroporto foi projetado para lidar com 500 mil passageiros e movimentar 5 mil toneladas de carga anualmente. No entanto, o baixo número de passageiros e a falta de rentabilidade fizeram com que fosse considerado um "elefante branco". A obra foi realizada pela construtora brasileira Odebrecht, com financiamento de 125 milhões de dólares do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) do Brasil, com garantia do governo moçambicano. A falta de capacidade de gerar receitas suficientes para quitar a dívida levou a empresa pública Aeroportos de Moçambique a não honrar os pagamentos, forçando o governo a acionar a garantia soberana.
Em 2019, o governo de Moçambique pagou 52 milhões de dólares ao Brasil, mas ainda restam aproximadamente 73 milhões a serem pagos. Além das dificuldades financeiras, o projeto foi alvo da operação “Lava Jato” no Brasil, devido a alegados subornos pagos pela Odebrecht a autoridades moçambicanas entre 2011 e 2014. Durante o julgamento, um ex-executivo da construtora revelou que uma funcionária da Camex (Câmara de Comércio Exterior) da presidência brasileira teria recebido 0,1% do valor do contrato para acelerar a aprovação do projeto, essencial para o financiamento pelo BNDES.
Uma investigação realizada pela TORRE.News em 2024 constatou que o Aeroporto de Nacala recebia apenas um voo semanal e ficava fechado nos finais de semana, com crianças brincando na pista. No terminal, apenas seis lojas estavam em funcionamento, enquanto mais de 25 permaneciam fechadas, evidenciando a baixa quantidade de passageiros. Com a reclassificação, as companhias aéreas que operam aeronaves de maior porte ficam proibidas de voar para Nacala, o que agrava ainda mais a crise financeira do aeroporto e intensifica o desperdício dos 125 milhões de dólares investidos.
O IACM alertou que o aeroporto só poderá retornar à categoria anterior quando as deficiências forem resolvidas, o que exigirá novos investimentos em uma infraestrutura já sobrecarregada por uma dívida significativa e por suspeitas de corrupção. O Aeroporto Internacional de Nacala permanece, assim, como um exemplo de promessas grandiosas contrastando com a realidade de subaproveitamento e degradação.