Polícia moçambicana acusada de ameaçar menor durante operação para recuperar armas
O cenário de tensão e insegurança em Moçambique continua a agravar-se, agora com novas denúncias contra as forças de segurança. O defensor dos direitos humanos em Nampula, Gamito dos Santos, acusa agentes da Polícia da República de Moçambique (PRM) de ameaçarem um menor de apenas oito anos com armas de fogo. O menino é filho de um manifestante detido sob suspeita de envolvimento no roubo de armamento das subunidades policiais durante as conturbadas manifestações pós-eleitorais.
Um menor sob ameaça e uma casa cercada
Segundo relatos, o incidente ocorreu quando a polícia invadiu a residência da família na madrugada de quinta-feira, por volta das 3h, um horário que, de acordo com o ordenamento jurídico moçambicano, não é permitido para detenções sem um mandado judicial. A corporação teria cercado não apenas a casa do suspeito, mas também as dos vizinhos, numa operação que Santos descreve como um “modus operandi de grupo criminoso”.
O menor teria sido coagido a revelar o suposto paradeiro de armas extraviadas pela polícia. “A criança relatou na minha presença que teve uma arma apontada à cabeça e foi forçada a dizer onde o pai escondia as armas”, declarou Santos. Para ele, essa ação revela uma atuação policial abusiva e descontrolada.
Falhas na recuperação das armas e o medo da população
A questão das armas roubadas continua a preocupar as autoridades e a sociedade civil. Ferosa Chaúque, presidente da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados de Moçambique, considera que a polícia deveria adotar uma abordagem mais dialogante com a população para facilitar a recuperação do armamento. “A arrogância da polícia só piora a situação. Há armas ainda em circulação e a criminalidade aumenta. A polícia precisa saber exatamente quantas armas foram roubadas, quantas foram recuperadas e reforçar a vigilância de maneira eficiente”, destacou.
Além disso, Chaúque alertou que a imagem da polícia como inimiga da população pode comprometer os esforços para recuperar as armas desaparecidas. Para ela, a cooperação dos cidadãos só será possível se houver uma mudança na postura das forças de segurança.
O caso expõe, mais uma vez, o delicado equilíbrio entre a segurança pública e os direitos fundamentais dos cidadãos em Moçambique, reforçando o debate sobre a necessidade de uma reforma nas práticas policiais e no relacionamento entre o Estado e a população.