Os protestos eleitorais de 2024 podem ter diminuído em Moçambique, mas na província da Zambézia, os seus efeitos ainda são visíveis, sobretudo entre os agentes da Polícia da República de Moçambique (PRM). O receio de represálias tem levado muitos a evitar usar o uniforme fora do horário de serviço.
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Desde o início de fevereiro, não foram registadas novas manifestações como as que marcaram os últimos meses de 2024, com atos de vandalismo e confrontos que resultaram em vítimas. No entanto, em distritos como Morrumbala, Derre e Luabo, o clima de insegurança persiste entre os agentes da PRM.
Policiais adotam precauções
Relatos indicam que os polícias têm evitado circular uniformizados fora do serviço, preferindo levar a farda na mochila para não serem identificados. Alguns chegam até a usar máscaras durante o trabalho.
"Já não saímos de casa fardados. É uma forma de precaução para evitar problemas", afirmou um agente sob anonimato.
Antes, era comum ver os agentes trajados a caminho do trabalho, mas essa rotina mudou devido ao receio de ataques. Ainda assim, a PRM mantém patrulhas em determinadas zonas, embora com mais cautela.
Comando da PRM nega clima de medo
O chefe das Relações Públicas do Comando Provincial da PRM na Zambézia, Miguel Caetano, negou que haja receio entre os agentes e reforçou que o uso do uniforme fora do serviço é uma escolha individual.
"Não há nenhuma norma que obrigue um agente a sair de casa fardado. A única exigência é que esteja devidamente uniformizado quando estiver em missão", explicou.
Tensão entre polícia e população
Apesar da redução dos protestos, especialistas alertam para o desgaste da relação entre a PRM e a população. O politólogo Lourindo Verde aponta que a repressão das manifestações pós-eleitorais gerou revolta entre os cidadãos.
"Mensagens de líderes políticos incentivaram à retaliação, o que aumentou a tensão. Isso fez com que os agentes adotassem medidas de autoproteção", destacou.
Para ele, é fundamental reconstruir a confiança entre a polícia e a população. "O que aconteceu foi uma verdadeira guerra. Agora, é preciso um esforço para restabelecer essa relação", concluiu.
Segundo estimativas da PRM na Zambézia, pelo menos cinco agentes foram mortos nos confrontos pós-eleitorais, e os impactos da violência continuam a ser sentidos tanto pelos polícias como pela população.